Como foi dito no artigo anterior, em astrologia kármica, Saturno tem um valor notável, pois é o planeta que mais nos coloca em contato com as experiências que de um modo ou de outro estão ligadas à experiência da dor, do crescimento, da solidão e de todos os aspectos da vida com os quais o confronto nunca é em vão, mas sempre uma ocasião possível para erradicar velhos comportamentos adquiridos no curso de existências passadas.
Naturalmente, ter uma ocasião não significa necessariamente empreendê-la, visto que existem algumas pessoas, como, por exemplo, aqueles com personalidade narcisista, que tendem a fugir da experiência do confronto com os núcleos internos mais dolorosos, arriscados, difíceis de administrar e aceitar, aquele que, em outras palavras é chamado de lado sombrio.
No curso da nossa existência, existem períodos nos quais todos nós somos obrigados de um modo ou de outro a se confrontar com esse lado sombrio, mas não é dito que depois conseguiremos ou faremos isso com êxito. Depende muito do nosso modo de enfrentar a vida, do quanto estamos prontos para cavar em nós mesmos, a aceitar quem somos, como pensamos e assumir os erros cometidos no passado (nessa e nas vidas passadas), tentando assim modificar parte dos nossos comportamentos, mesmo se o preço cobrado por Saturno nunca é baixo. Mas já sabemos que o que Saturno tira, depois ele restitui no tempo, sempre com altos interesses, desde que naturalmente nos empenhamos em trabalhar de modo maduro e sério.
De resto, Saturno tem em si duas palavras-chave, que compartilha com Quíron: sacrifício e desejo. Ambos os planetas ensinam que o primeiro passo verso a plena expansão do próprio Ser passa através da ética do sacrifício, que não deve ser confundida com moral católica, mas sim como capacidade de renunciar a tudo o que é supérfluo e inútil na vida para alcançar uma meta. Aprender a abandonar esquemas, hábitos nunca é fácil, mesmo se são fontes de dor, porque representam sempre, em um modo ou no outro, certezas às quais somos atacados. Tanto Saturno quanto Quíron incentivam a dissolução dessas correntes patológicas que ancoram o passado, ensinam que o sacrífico é um ato de vontade que leva à libertação e à plena maturação do que está parado em nós.
Claramente, as modalidades serão diferentes, pois Saturno usa muitas vezes a coerção, ou seja, faz com que nos sentimos obrigados a aceitar aquele percurso e a renunciar a posses precedentes, até porque muitas vezes ele consegue eliminar certezas em pouco tempo, enquanto Quíron é mesmo rígido e tende a colocar em dúvida as próprias certezas, endereçando verso o abandono de esquemas que obstruem a evolução livre dos próprios projetos existenciais.
Se Saturno obriga, Quíron aconselha, mas muitas vezes é apenas da ação combinada dos dois que se pode construir um percurso evolutivo crescente, que através do sacrifício de partes de si, leva depois a alcançar uma das múltiplas metas nesta existência. Mas tudo isso pode vir apenas do desejo. De fato, desejar é condição obrigatória a todo crescimento e realização pessoal pois onde não há desejo, não há história verdadeira.
Saturno leva a desejar em modo concreto, adulto, até bem ponderado, sempre alinhado com as próprias possibilidades, ajudando a manter os pés bem plantados na terra, enquanto Quíron leva a desejar em um modo talvez um pouco utópico, metafísico, abrindo também para sonhos que podem ser considerados em uma primeira análise inúteis e irrealizáveis. Porém, é bom não pensar que possa tratar de ilusões, mas simplesmente ajuda a querer mais, a sustentar mais a própria autoestima e, portanto, a abrir uma passagem no futuro de modo mais variado e amplo.
No próximo artigo veremos como o ciclo de Saturno dá início a uma série de processos psicológicos muito importantes que muitas vezes estão em contato direto com a experiência acumulada, e momentaneamente removida do inconsciente, inerente a vidas passadas.