Saturno senhor do Karma?

Já está determinado que Saturno é o planeta mestre do Karma, aquele que mais do que qualquer outro nos coloca em contato com o conjunto de coisas que carregamos de existências passadas e com as quais temos que lidar. Mas as coisas são assim mesmo?
Provavelmente não, no sentido de que Saturno, mais do que vinculante a vidas passadas, é um poderoso ativador de nosso presente, do Dharma, ou seja, do percurso evolutivo-existencial que decidimos empreender no início da encarnação atual e que de um jeito ou de outro tentamos levar adiante, muitas vezes com fadiga, com dificuldade. É aqui que encontramos em toda a sua expressão o poder kármico-dharmico-evolutivo de Saturno, isto é, a sua carga transformadora que nos obriga a fazer as contas com o que mais ou menos conscientemente decidimos levar adiante em nossa vida, com o conjunto de responsabilidades que assumimos no momento em que nossa Alma se apropriou do corpo em que reside.

Claro que nem sempre este percurso é facilitado. Aliás, às vezes pode haver uma série de eventos, inclusive bastante fortes, que podem criar atritos, tensões, dúvidas, dores, mas também certezas, consciência, realizações. Em outras palavras, Saturno tem o poder de nos fazer entrar em contato com as partes mais fortes, rígidas e coerentes de nós que, porém, às vezes nos colocam diante de verdadeiras resistências de natureza diferente que inevitavelmente coincidem com os momentos difíceis, problemáticos e pesados da nossa existência.

Esses momentos são marcados por trânsitos de Saturno, do seu percorrer o zodíaco e em encontrar os nossos planetas, especialmente os pessoais, e, portanto, em datar os momentos de iniciação ao crescimento e à consciência do que realmente é importante para a nossa vida.

Provavelmente, a pessoa que tem no seu papel do céu um Saturno dominante, especialmente se no Ascendente ou no Médio do Céu,sabe muito bem tudo isso,uma vez que possui em si uma clara consciência de seus limites, mas também de sua potencialidade. D de várias maneiras, ela também está ciente de que há momentos em que tudo isso deve ser submetido a uma verificação e que deve ser constantemente colocada à prova para testar a real importância que tem para sua própria existência.

Saturno tem um conceito de tempo que é estritamente linear e que dificilmente se presta a análises e interpretações imaginativas ou que se refere a um amanhã, ou até mais a um ontem. Saturno não está ligado ao passado, muito menos ao futuro, mas ao presente, ao aqui e agora, mesmo que esteja constantemente considerando o passado e os planos em vista de um objetivo, mas apenas como parâmetros de um começo e um fim.

Em outras palavras, Saturno toma conta do passado apenas como funcional ou inibidor dos projetos a serem levados adiante e dificilmente se chafurda nisso, porque sente seu peso, a força inibidora que possui, mas, ao mesmo tempo, não se deixa deslumbrar com o futuro, porque sabe bem que não pode conseguir nada além de construir com coerência e constância no presente, sem excluir qualquer possibilidade e sempre mantendo um aspecto desinteressado e desconexo frente a resultados fáceis e fugazes.

É por isso que Saturno não pode ser definido simplesmente o senhor do karma, se por karma entendemos tudo o que está ligado exclusivamente a vidas passadas, como acontece com frequência. Mas, se em vez disso, o enxergamos como aquele que faz leis de causa-efeito (que fundamenta o karma) um princípio básico de sua ação, então a definição acima é correta, porque ele sabe bem que por trás de um sacrifício e de uma renúncia, há sempre algo de positivo e concreto que nos espera, que nada, ou quase, pode ser obtido sem qualquer esforço e que, mesmo que isso aconteça, implicaria a aquisição de estratégias e responsabilidades para poder administrar tudo de modo sábio e cauteloso, evitando ver desaparecer o que entrou facilmente na própria vida.

Nos próximos artigos, analisaremos o ciclo de Saturno e seus trânsitos, tentando privilegiar o aspecto construtivo e positivo de sua natureza, e não o que com frequência e injustamente prevalece: o opressor.

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